O VERBO E O SUJEITO
Eu sou apenas o sujeito
Mas contento-me em ser simplesmente o sujeito
E ai de mim, pleitear ser o verbo
Eu jamais poderia, seria devaneio
Pois o verbo é imensurávelmente maior do que eu
E sem quem querer ser ululante,
É inefável mente melhor do que eu...
Então insisto, sou apenas o sujeito
E como tal, estou sujeito às concordâncias da vida
E toda a sua sorte de infortúnios
Que me fazem tão humano
Então...
Sou apenas o sujeito
Embora eu tenha lá meus predicados
E me caibam tantos adjetivos
Não passo de um reles sujeito
Outrossim...
Isso não tira a minha utilidade, ainda que modesta
Embora eu deva admitir que não tão indispensável
Embora eu não creia que faço tanta falta
E isso não pela minha modéstia
todavia pelo resquício de escrúpulo que ainda me resta
Quer saber de mim?
Eu sou um sujeito simples
Composto de defeitos e qualidades
De vícios e de virtudes
Sou fraco e mortal
Sou minúsculo
Isso como qualquer sujeito
E poucas não são as vezes nas quais me oculto
Eu que um dia já fui inexistente
Ironicamente um dia voltarei a sê-lo
E esta é a minha única perspectiva
Quanto ao verbo?
Eu me perderia em palavras
E definitivamente não o descreveria
Pois não me encontro à altura das coisas idiziveis
Não sou prepotente a tal ponto
Veja você...
O verbo desceu onde eu estava
E tornou-se um sujeito
Não um simples sujeito
Entretanto um sujeito simples
Humildemente, de carne feito eu
Tão humano quanto eu
Ao ponto de sangrar como eu
E até de morrer como nem eu
E de ressuscitar...
Ressuscitar como jamais eu.
Assim é verbo
E voltou a ser verbo
Porque nunca deixou de sê-lo
Enquanto eu ainda sou o sujeito
Um mero simples sujeito
E como tal preciso do verbo
Sou servo, não me oponho
Obedeço aos desígnios seus
E não disso, eu não me envergonho
Afinal sou apenas o sujeito
E o verbo...
É Deus!