LORDE
Em tempos de transição e discórdia...
um ébrio... mostra respeito aos seu semelhante
perdeu as oportunidades da vida,
o respeito dos transeuntes,
os dentes,
o ar de Homem...
mas, não perdeu ... a alegria.
A todos os que passam, seus vizinhos ou não
ele diz bom dia,
pergunta como vão, sorri,
e a alegria é contagiante, as vezes vem o coro:
- Bom dia!!!!!
Em outros, um bom dia acanhado,
sem associar o cumprimento a pessoa.
O bêbado, não deixa abater,
sentado na calçada
pernas cruzadas
com um ar de lorde...
mãos cruzadas, sobre as pernas...
uma vazia,
noutra um vasilhame de plástico
com aguardente...
Os transeuntes continuam a passar
para o comércio que pela manhã começa a então
funcionar
O ébrio cumprimenta os que conhece, sorri
Os transeuntes o criticam
– O sujeito já amanhece com a garrafa de cachaça na mão.
Ele pouco se abate, sentado em seu sofá de luxo, ao ar livre,
com vistas para a praça
divaga
e
continua a cumprimentar,
a distribuir elogios e alegria
dentro do seu bom dia,
coisa pouco comum entre os comuns que passam.
Alguém pergunta:
– Ô lorde, onde está o seu cachorro?
Ele então responde:
– Livre por aí!
– E quantos cachorros tu tens?
Ele com ar soberbo responde:
– Quarenta e quatro!
Todos o conhecem e ele cumprimenta a todos,
bons e tolos
a todos sorri
e a todos deseja um belo dia.
Um cigarrinho aqui,
outro acolá...
e o ébrio segue distribuindo alegria...
Talvez não contribua ativamente para o bem
da economia.
Talvez nunca tenha possuído belos trajes,
um sorriso branquinho,
um lar limpo,
talvez não tivera uma infância feliz, pais amáveis
talvez tenha perdido esposa e filhos...ou nunca possuído
Mas, uma coisa é certa
e
que nos sirva de alerta
O lorde sabe sorrir,
e em seu delírio,
em seu lugar ao sol,
o dia pra si é feliz e lhe
sorri...
Brasília - DF, 2003.
Do imaginário de quem observa.