COLECIONADOR DE ALMAS

Arrancaste minha alma com os dentes

Cuspindo, na minha frente, os pedaços que eram teus

Não me deste tempo de desatar os nós

Que tu mesmo fizeste feito marinheiro que és

Para que estivéssemos sempre juntos

Ainda que soubesses da tua sina de abandonar os portos

E da tua falta de coragem de ser o último a deixar o navio

Assististe ao naufrágio do meu amor

Como quem assiste a um filme sem necessitar ler as legendas

Tens a capacidade de saber outras línguas

E, por isso, pouco te importaste em prestar atenção na que meu coração te falava

Saíste de cena da mesma forma como apareceste

De repente, sem avisar, se aninhando no colo que nunca, de fato, quiseste ter

Tua atuação, digna de aplausos, foi imitação barata de filmes que vimos abraçados

Nunca imaginei que o fim fosse ter a dor do incompreensível

Como tantas películas que nos deixam ser saber ao certo o que aconteceu

Roubaste meus melhores dias

E, não satisfeito, meus melhores momentos

Na tua trama assassina me puseste num dos montes de corpos

Como fazes por onde passas...

Esticados no curtume das tuas andanças vis

Amanheci hoje com os teus tantos “eu te amo” ecoando nos meus ouvidos surdos de querer

Deveria ter notado que até no tratamento que ofertas a quem dizes amar

Os termos se repetem

Mudam apenas os corpos e os rostos

Para que não precises ter o trabalho de recomeçar

Mas as tuas falhas de continuidade

São irmãs gêmeas do teu caráter torto

Se hoje ainda acordo e lembro-me disso tudo

E para que nunca mais possa ter a vontade de cruzar a mesma rua

Ou passar por cima do chão que pisas

Sei teu endereço, os lugares que freqüentas... As coisas que fazes

Mas recolho-me, ermitã, evitando a todo custo cruzar o teu caminho

Antes, o teu caminho era a lanterna que usava para não me perder

Desconhecia o abismo onde me atirarias

Tão logo estivesses pronto para ter futuro mais promissor

Não que busques algo tão ingênuo quanto o amor

Longe, bem longe disso

Tuas posses são muito mais amadas que as tuas vítimas

Enjauladas pelo teu carinho falso e mordaz

És um algoz

Nisso podes saber-te perfeito

No mais, és uma pessoa sem nada

Além das almas que levas junto com as tuas malas

Colecionando a essência dos que te amam

Para, quem sabe, um dia, ter alguma essência que te valha

Iza Calbo
Enviado por Iza Calbo em 21/09/2011
Código do texto: T3232296
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