Surdos
Ora, porque achar que uma canção fará as dores do nosso ser diminuir? Agindo como crianças sem razão, brincando o jogo do encaixe, tentando encontrar as palavras certas ou melodias harmoniosas que se encaixem perfeitamente nas lacunas de nossas almas – triangulo para o triangulo; circulo para o circulo; quadrado para o quadrado.
E como surdos gritamos os versos com tanta força que faz algo entre a mente e o coração doer. Gritamos esperando que o mundo ouça a nossa dor ou vestígios de alegria. Gritamos, sem afinação, rasgando o verbo de nossa alma. Como surdos, que mesmo sem tais palavras ou melodias, parecem se expressar mil e centenas de vezes melhor que nós. E quem é o debilitado?
Causando exaustão ao corpo, em movimentos desconexos de uma dança. Queremos que flua em alta velocidade do nosso corpo a corrente de pluvial que faz nossa pele parecer uma represa, assim como a palavra Deus para o inominável. Caçando a presa frágil, encontramos metáforas que reflitam o momento, metáforas que justifiquem nossas ações, e porque tanto tempo, e porque tantas dúvidas.
Somos humanos errantes entre as cordas de um instrumento de um braço tocando uma melodia desconhecida e inaudível. Mas talvez, só os surdos a ouçam.