Retratos na parede
O que é a morte além de retratos nas paredes? Quem se foi, nunca se vai, porque os retratos estão lá... sussurram e a brisa que percorre os cômodos da casa, confunde-nos os sentidos. O chão de madeiras corridas, bem antigo, range nos passos mais lentos enquanto os retratos na parede falam.
Não é magia, não é amor, não é a própria existência. São apenas rastros do passado que agridem nossa vida inumana, nossos momentos mais taciturnos, nossos ideais. É brisa, é som, é medo.
O olhos nos acompanham, num movimento que ninguém mais além de nós vê. Eles são testemunhas da vida; apesar de calados, nos aplaudem às atitudes nobres e nos recriminam às mesquinhas. São testemunhas oculares, com mortos olhos.
E seus olhares nos devoram a alma. Seja por medo, por saudade ou por qualquer outro sentimento que não sabemos nomear.
É a presença incontestável desses olhos, desses retratos que nos fazem refletir... e refletimos.
Tememos, adoramos, odiamos,amamos. Eles são impassíveis. Não se sensibilizam aos nossos sentimentos, Testemunham a vida, de forma calada e crítica.
Eles são apenas retratos. Mas são reflexos de nós. Nos ensinam a viver e a morrer, passivamente... nos ensinam a ser o que eles são... retratos na parede, apenas retratos na parede.