A casinha do sítio
Ela era simples, clara e irradiava paz. As crianças corriam pelo chão onde as folhas se misturavam às outras folhas, em mil tons de verdes, folhas ressecadas, inacabadas, marcas da estação.
O caminhar lento do vovô Juquinha, os quitutes de vovó Sonora, a delícia de estar na casa dos avós. Os netos misturavam-se, sentiam-se embalados, era um misto de doçura e altivez.
A educação rígida, o respeito, o contentamento. A certeza, a segurança e o momento. Tudo era luz.
Mas de tudo que fica, ficou aquela casinha do sítio. Apenas uma fotografia e muitas lembranças e muitas saudades. A irregularidade do chão, as pedras, o cheiro da terra molhada... tudo tem seu valor e tudo tem seu mistério.
O barro dos pés deixados no tapete da entrada da sala, o aroma da vegetação, o cheiro da terra molhada. Tudo isso está na lembrança, e essa lembrança vem passando de geração em geração.
Não há mais vovô Juquinha, nem vovó Sonora... apenas nas histórias contadas pelo meu pai . Tudo que temos são as lembranças. Nem sabemos o que foi real ou o que foi romanceado pelos sonhos infantis de meu pai.
Mas, apesar de tudo, é o que temos. As lembranças e o quadro da casinha do sítio. Olho o quadro e vejo a casinha que me é familiar. Não porque a conheci. Isso nunca aconteceu! Mas porque ela faz parte do meu passado. Um passado que eu mesma nem vivi. Mas o passado dos meus ancestrais.
Por isso sinto a dor deles. Sinto a saudade. Sinto a ausência desse espaço que, hoje, é tomado por casas pobres e pessoas mal vividas. É tomado por existências que nem ao menos conhecem o passado daquele lugar.
Aquele lugar que é meu, minha história, meu passado, meu presente no quadro da parede, meu futuro na lembrança dos meus filhos e dos netos que hei de ter.