Fazer as pazes
Foi o jeito que a vida arranjou para se redimir...
Aquele não foi um abraço humano, tampouco físico como os outros abraços.Foi um abraço da vida, um abraço de desculpas por todo o mal que me ocorrera por acaso, em todos esses anos antes daquele humilde abraço.
Mas, o que faço com isso agora?Que faço com o vício que adquiri?
Agora me vejo como uma criança que não se contenta com poucas balas de goma e quer mais e mais...
Agora tudo o que a vida faz de ruim é pretexto para minha birra, para que eu espernei, grite e escandalise.Tudo o que dá errado é motivo para eu exigir novamente aquele abraço.
Mas aqueles braços parecem não querer me abraçar.Parecem tão indiferentes...
Eu desejo em meu íntimo que eles só estejam esperando o fim do meu escândalo infantil, que estejam esperando que eu pare de chorar e esperniar e que fique serena como um rio...
Daí sim, como uma mãe abraça um filho, aqueles braços finalmente me confortarão outra vez, se desculpando novamente por todo o passado que me machucou, por todas as vezes que fui ferida, se desculpando pela ausência, pela lacuna dos dias em que esses braços estiveram distantes...
E novamente transcenderei, ficando iluminada de perdão, me redimindo com a vida, andando de mãos dadas com ela.Pois abraçando aqueles braços, também peço perdão por tudo que fiz ou deixei de fazer, por todas as minhas fraquezas e todo o meu egoísmo.
Nossas mágoas enfim se desfazem, e nossos erros e fraquezas se igualam.Então ficamos, eu e a vida, em paz recíproca.
Que aqueles braços voltem logo, não demorem a me abraçar novamente...
Preciso fazer as pazes com a vida.