EM FORMA DE MULHER

Ela andava e exalava confiança a cada vez que seu meio salto tocava com firmeza o piso reluzente do salão. Cada passo era um gesto ameaçador. Sim, ela ameaçava. Seu olhar não mudava simplesmente de direção, aqueles olhos penetrantes pareciam decifrar as almas cada vez que mudava de foco. Ela não olhava, ela se introduzia.

À medida que passava dava forma a um vendaval de interrogações, de intimidações. Ela não só intimidava como induzia, provocava um caos de sensações que chegava a ser ofensiva.

Alguma coisa muito parecida com um desejo extremamente tangível se manifestava naqueles lábios naturalmente enrubescidos. Eles compunham uma hipnose de sofreguidão tão indecifrável que nem mesmo a avidez dos mais ardentes e exóticos licores superaria tamanha proeza. Ela, literalmente, causava sede ao paladar dos olhos que adormeciam fixados naquela boca.

Era como um bicho, predadora, indomável... A vontade desmedida que eles tinham de desvendá-la não superava o temor, o sentimento de inferiorização causado pela presença dela. “Inalcançável... Inatingível...” Era o que ecoava entre as mentes enquanto ela se distanciava.

Mal sabem todos eles, que é uma frágil película de mistério que a protege da sombra do comum. Que o detalhe que deslumbra os olhos é inerente à simplicidade. Que sua capacidade de sentir está sempre à flor da pele, transmitindo todas as sensações de desespero e agonia, desejo e ousadia, felicidade e compaixão.

MAL SABEM TODOS ELES QUE ELA É A EVIDÊNCIA DO AMOR, PROTEGIDO PELA IMPONÊNCIA DELE MESMO.

Jessik Andrade
Enviado por Jessik Andrade em 15/09/2011
Código do texto: T3221970
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