Não pare a música
Não importa se a taça se esgota...se por um fio a vida escapa entre um suspirar e outro...enquanto a música tocar, deslizarei pelo salão...
Meus passos leves...carregam meu corpo em rodopios...nesse imenso salão, vazio...
Vou dançar com toda pompa...até a última nota...entre tremores e arrepios... que me sobem pela espinha ereta...
Meia luz e sob o efeito dos reflexos dessa luz, meus olhos brilhando como navalhas afiadas...cortam de ponta a ponta o espaço do salão...atravessam nossos corpos...colados...suados...
Não, não pare a música...tenho os pés acesos...a alma volita dentro de mim...marcando o compasso dos meus passos...que rabiscam ritmados...pelo chão dessa noite generosa...de farta alegria...
Cada nota arranhada nessas cordas...soa cá dentro, com vigor...ecoa pelas minhas paredes ocas...e me faz tropeçar em mim...
Como se eu fosse mais de uma...me espalho por todos os passos na exatidão dos meus próprios espaços...seguindo a sinfonia dos acordes...que estão por toda parte...vibrando sob os meu pés... passeando pela minha pele...roçando na minha nuca...
Enquanto a música se desloca pelos quatro cantos...me perco e me acho seguida por esse facho de luz...rastreando meus passos...em desenfreada euforia...
Pois que toque até a exaustão...enquanto tiver forças, eu me arrasto...me gasto...sem pensar se verei o nascer de um novo dia....