Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Não tive a sorte de lhe dar a luz para vir ao mundo
Nem tive o prazer de lhe acariciar a face
Não conheci sua exuberante força
Não pude ver seu maduro jeito audaz
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Nem tive o dom para lhe conceber
Não tive a força para lhe trazer
Não tive certo um argumento lógico
Nem pude ter, ao meu lado a voz
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Morreu mais cedo que morre o poeta
Não disparou como um punhal a seta
Ficou calado no âmago do peito
Foi mais veraz do que o meu raro efeito.
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Fui incapaz de lhe compreender
Deixei fugir da minha inspiração
Fui descuidado com seu parecer
Perdi no tempo a sua razão
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Em uma noite quente eu esqueci de ver
Uma brisa lá fora que veio saber
Se na minha vida havia um lugar
Para um delinqüente eu agasalhar.
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Numa noite fria que chovia tanto
Eu dormi muito cedo, me encobri com o manto
Tava muito escuro e eu tive pavor
De abrir os olhos pra não sentir dor.
Ao poema que não escrevi, deixo meu lamento.
Brasília 18/12/2006 Evan do Carmo