DE MANHÃ

A cada manhã esbarramos numa dúvida que nos acompanhará pelo

resto do dia. O toque do celular nos desperta, avisando que a mes-

ma realidade vai começar outra vez. Uma realidade que toma conta

dos instantes e faz com que acreditemos que a vida será sempre is-

so: uma paisagem afundada na indiferença e no medo das pessoas.

E a imaginação passa pelo paraíso duvidoso que distrai a realidade.

O pão sobre a mesa tem o mesmo gosto de ontem e, certamente,

terá o mesmo amanhã. As metamorfoses existem apenas nas meias

palavras que dizemos antes de enfrentar as lamas das ruas, a multi-

dão do metrô, as conversas banais que arranham nossos ouvidos. E

vamos juntando os cacos e colando tudo no espelho dos dias, rein-

ventando o sentido da solidão.

JOAQUIM RICARDO
Enviado por JOAQUIM RICARDO em 13/09/2011
Código do texto: T3217088
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