Do espaço que lhes cabia
Tinha esse homem. E ela o amava. e o amava tanto, por tantos e tão bons motivos. ele era mesmo um ótimo. ótimo amante, artista, amigo, ótimo homem, ótimo ser. E teriam tudo, e seriam muito, se fosse por ela... se não fosse por ele. aquele outro ele... que também era ótimo. também era amigo, também era artista, também era amante. ótimo homem, ótimo ser. E era ele dela a razão - para não seguir, não avançar, nem voltar atrás. para parar, como se estivesse chegado ao fim do caminho. E o outro ele, aquele primeiro, quando distante, por mais que juntasse forças, jamais poderia arrastá-la adiante. acabava por ser ele o arrastado - para o lado de dentro daquele cercado em que ela se permitia andar, onde ela se limitava a ser deles, antes de ser sua. e assim, esse acabava se vendo preso a ela e àquele, num complicado e ardiloso jogo de equilíbrio e resistência. e resisitia, mesmo quando se via atirado naquele canto - solitário a ocupar o espaço que lhe cabia no triângulo dos artistas-amigos-amantes. e por muitas e muitas vezes se perguntava "se tem cabimento" e o pior -ou melhor- é que tinha. ainda (a) tinha. sabia que, de alguma forma, aquilo lhe(s) cabia. por mais que alguns ajustes fossem necessários - e que doesse aparar os dedos para não fazer mau uso das mãos e escolher entre costurar a boca ou o fazer com a língua. e fazia, e doía, e encolhia, e cabia, e seguia. não diferia dos outros - nenhum deles sabia até quando aquela forma resistiria (tamanha pressão que cada um no seu canto fazia), quando é que o tão esperado equilibrio existiria, até quando "tão bem'"aquilo lhes pareceria, aquilo lhes caberia. e assim, tinha esse homem, havia aquele outro, e ainda há, esta mulher, a quem o amor, sem qualquer razão, escolhia. enquanto à vida a trama tecida seguia. e seguia, e seguia... até que o novelo viesse a (ir-) romper, num só nó, ou noutro qualquer, algum dia.