TÁBUA DE SALVAÇÃO.
Chagaspires
As lembranças retornam a minha mente querendo transformar os dias do presente em passado.
Uma música que marcou época, o cheiro doce de um perfume usado; uma foto desbotada pelo tempo; um lugar já vivenciado; ou mesmo uma velha camisola a muito esquecida entre as roupas no cabide; então, estonteado volto a sentir as coisas envelhecidas pelo tempo.
A mente transmite ao coração sensações a muito guardadas.
É só fechar os olhos e as imagens voltam como por encanto.
Passo a perceber a casinha pequenina onde começamos nossa vida de casados.
O encantamento dos primeiros dias; a luta pelos nossos ideais, os filhos, as brigas que aparecem entre todos os casais. As coisas que foram nossas.
Parece que começou tudo de novo.
É a reprise de um filme onde os protagonistas fomos nós.
Ao me acordar te procuro entre os cobertores da cama em desalinho esperando ver teu corpo adormecido e outra pessoa está ao meu lado.
Rapidamente percebo que tudo não passou de um sonho, e na penumbra do quarto encosto a cabeça no travesseiro procurando espantar as lembranças, e voltar ao presente.
Foram quase quarenta anos e por mais que me esforce, vez por outra, lá está o passado de volta.
Me apego ao meu amor do presente tal qual náufrago desesperado, cuja única esperança é ter encontrado a deriva a tábua da salvação, e escondo o que se passou, colocando lá para as bandas escuras do cérebro.
Só assim volto a encontrar a calma e adormecer novamente.