NINJA NORUEGUESA
NINJA NORUEGUESA.
Béia (Zilá)
Mulher, tu és imensa do tamanho dos meus sonhos.
Tu és infinita como este mar que vejo todos os dias, e eu me sinto uma ínfima ilha perdida diante da grandiosidade das tuas águas.
Eu sei que tu não és só imensa, tu também és polivalente e rápida como o relâmpago.
Pois tu consegues fechar a porta da geladeira, a porta do armário de cozinha e o maldito fogão, tudo ao mesmo tempo, num só golpe com gestos ligeiros e impensados como uma arrogante ninja norueguesa.
Minha linda nórdica, com a tua simpatia tu subjugas a tudo e a todos.
Ora, com o teu carinho, ora com a tua praticidade madura mulher.
Mulher tu esqueceste de subjugar o inevitável, diria até o principal: os sonhos.
De outra vez eu havia te pedido para me decifrares, talvez não tenhas entendido.
Hoje eu te prometo que doravante eu é que vou te decifrar, pois tal intento tu não conseguiste.
Apesar de ainda carregar em minha alma os cravos do suplício, já caminhei além do ato medíocre num busca perseverante de ti.
Dá-me a tua permissão?
Ouso te perguntar, desculpa a minha ousadia, mas a nossa intimidade a isso permite.
Será que bailando ao ritmo da fisioterapia dos vanerões, encontrar-se-á o destino com os seus enleios e os seus ocasionais anseios?
Quero crer que não, entretanto, eu quero te buscar de outro jeito.
Assim como e quando tu eras igual àquela menina que eu vi no quadro, ampliada e exposta na parede da sala, eternamente calada.
Várias mulheres de anos vários, dizem-me elas que o bailão é uma terapia, que traz um alívio e um acomodamento de alma.
Isto quer me parecer, antes de tudo, tratar-se de uma fisioterapia ou, uma demonstração desinibida de que ainda estão em plena forma física. Será?
Se for uma terapia nos leva a crer tratar-se de mulheres doentes, em busca de um anestésico para a vida, essa vida cheia de mesmices e preconceitos vários.
Será que elas já pensaram alguma vez em tratar-se de uma outra forma?
Talvez eu indique a terapia dos sonhos.
Eu acho que o que está verdadeiramente faltando são os sonhos, não comungados e não sonhados.
São os sonhos, esses requisitos existenciais os responsáveis pela cura inconsciente dessas mulheres.
Somente a busca deles realiza e faz terapia na alma, e por fim, conquistam e restabelecem essas almas doentias.
Será que essas mulheres ainda alimentam os sonhos?
Acredito que sim, entretanto estão procurando nos lugares incertos e os menos indicados.
O sonho é um atributo necessário à alma, e ele não está somente no bailado, está muito mais próximo do que elas imaginam.
Bailar é muito bom.
Se a pessoa com quem se baila é realmente a pessoa amada.
Quero acreditar que para essas mulheres, como também para os homens, dançar é um exercício ou uma forma em demonstrar entre um passo e outro os seus sonhos frustrados ou, querendo fazer ressuscitar novos sonhos. Talvez!
E neste desfile melífluo deixam transitar um passado cheio de frustrações, e não sabem realmente o que estão procurando.
Talvez somente uma aventura.
São umas exposições desnecessárias e exibicionistas, submetendo-se assim a juízos apressados e inconvenientes próprios dessas ocasiões.
Dançar é sabidamente uma arte, arte essa que deveria ser executada plenamente com a pessoa amada.
Aí sim, é um doce rito de sedução em que a amada se entrega de corpo e alma.
Seduzindo assim o seu parceiro com o ritmo da dança, expresso sensualmente no gingar gracioso do seu corpo em evoluções.
Desta forma, envolvendo os dois num clima de êxtase e propiciando desejos escondidos maiores e mais extravasadores.
A dança é a verdadeira expressão do corpo, ou melhor, a expressão máxima da sedução.
Foi com ela que Salomé seduziu a Herodes, assim como Cleópatra conquistou o coração de Roma seduzindo a Júlio César, e depois, insatisfeita seduz o seu sobrinho o invencível Marco-Antônio.
Todos se prostraram com a dança, por isso ela transporta um misto de sensualidade e conquista.
Procuro uma mulher verdadeiramente feminina e que dance somente para mim.
E que também, saiba me seduzir de imediato com o requebro do seu corpo abrasado.
Aí sim, entregarei o meu reino.
Deporei a minha espada e descansarei a minha armadura intransponível para depois, abraçá-la e beijá-la com toda a tática de um guerreiro incansável, seduzido e conquistado.
Certa vez, uma deusa Viking dançou para mim, tal foi o seu encanto que até hoje, vivo a turva embriaguez provocada pelo seu corpo seminu.
Ah, eu não soube ou eu não pude conquistá-la.
Talvez, ela ainda esteja a dançar no mesmo ritmo e na mesma sofreguidão, em busca do seu guerreiro e da teimosa conquista.