Dizem que através dos olhos se vê a alma. Disso eu não vou duvidar e até posso dizer que se vê além da alma. Existem olhos que dizem tudo e não se contradizem quanto à pretensão de quem olha. Há olhar que intimida e nos faz tremer, porque as partes foram mutuamente aceitas e se tornaram cúmplices, tacitamente. Não foram as palavras que convenceram, mas o olhar profundo e devastador. Como tudo na vida é uma sucessão de causa e efeito, não poderia deixar de ter conseqüências. Fixou-se o momento que virou lembrança, marcante demais para ser esquecida por dois pares de olhos que diferem apenas nas cores. Ora são espelhos, ora são janelas por onde conseguimos chegar aos recantos mais íntimos e sagrados de um ser. E o efeito é que não caminhamos mais vazios porque aquela lembrança nos preenche a alma e acende a esperança que jazia apagada num canto qualquer dentro de nós. Não nos contentamos mais com a superficialidade de um olhar, cujo significado se traduz como desinteresse e este, refletido no olhar de quem se quer, fere. Com os olhos contemplamos a superfície das coisas, mas não o seu conteúdo. Podemos até adivinhar o que está inserido dentro de uma cômoda, todavia, podemos presumir quase que com certeza sobre os sentimentos que nos transmite um simples olhar. Tristeza, alegria, medo, aprovação, desconfiança, espanto, ódio, amor e tantos outros que a criatividade humana pode definir.