De repente é só isso
esse amontoado de palavras,
apalavrado aos montes, a pulso,
arrancado por impulso nem sei de onde,
desentranhado, dizem, de lá das entranhas,
engravidado de silêncios, parindo versos,
compondo gritos de uma dor tamanha,
talvez de viver, dor de ser, medo de não ser,
esse medo tão tolo que temos todos de morrer.

De repente pode ser que seja eu
que me escondo nestes silêncios,
sem um deus qualquer que me valha,
na cangalha algum deus que me odeie,
sem uma migalha de amor que me enleie,
ataviado numa tão vistosa mortalha,
amortalhado em minha pobre nudez
e desesperançado em minha mudez,
sem deus que me valha na cangalha.

De repente nem seja assim de repente
que sejam somente essas palavras amontoadas
fazendo de um tudo poesia em nada de nada,
ou vice e verso diverso do que versa o verbo calar;
ou num tempo sempre eternamente há de durar
todo o silêncio que a muito custo aprendi a fazer.

De repente, quando tudo se aquieta se completa
e não é nada que aqui fora possa haver ou haja,
tem de ser, há de ser algo que aja de repente
aqui dentro bem lá dentro do fundo da gente,
algo que de tão igual vem a ser bem diferente.
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 10/09/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T3210826
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