Efêmera Eternidade
A vida passou, diga-se de passagem, rápido de mais. Decepção é pouco quando se esperava a eternidade, quando não via a efemeridade das coisas todas. E, ainda hoje, continuo vendo essa efemeridade, mas de forma diferente. Aprendi que efêmeras e eternas são todas as coisas, que essas duas palavras só existem por uma forma apelativa de tentar descrever o que não se entende. É realmente uma pompa da sociedade e da linguagem, que não se contenta com um só termo. Afinal, todas as coisas acabam e todas as coisas duram para sempre. Depende de que ângulo você assiste ao teatro da vida e da morte.
Pois bem, vivi em orgia, em prazer. Minha vida era perfeita: eu era a rainha. Achei que seria rainha para sempre, achei que duraria para sempre. Acreditei piamente que nunca deixaria o cetro e a coroa, que seria sempre eu que me sentaria ao trono ao lado do rei com o vestido mais brilhante do salão, o sorriso mais confiante, o olhar mais triunfante. As moçoilas todas ao meu redor glorificavam-me, serviam-me. Todos me pediam favores, e eu que distinguia se era relevante ou não a causa. Eu é que comandava o rei, o influenciável, inocente e doce rei, meu marido. Eu é que comandava toda a corte. A Inglaterra me pertencia.
Eu acreditava ser pra sempre. Acreditava que minha juventude seria eterna, que as mascaradas e os bailes reais nunca se extinguiriam e que eu sempre seria a estrela da corte. Eu sempre seria amada por todos, ninguém tiraria o meu lugar. Não que fosse ambiciosa, apenas havia lutado muito por aquilo, ninguém teria o direito de me destronar. Eu amava meu país, fazia tudo por ele, e ninguém seria melhor do que eu nisso. Ninguém seria tão obstinada e ao mesmo tempo tão submissa às ordens, ninguém sorriria tão docemente quanto eu e ninguém enfrentaria os olhares de quem tentava humilhar-me e invejava-me.
Nunca me passou pela cabeça que outra poderia seduzi-lo. Ele seria meu para sempre, eu havia conquistado-o desde o primeiro momento.
Mas acabou e eu enfrentei a efemeridade com a serenidade de sempre, com o queixo erguido, resignada diante da Providencia Divina. Deus sabia o que fazia. Sim, a vida passou rápido demais e é desconfortável morrer como uma Maria-ninguém, decepcionante observar o espelho e notar a vida e a juventude se esvaindo de mim e dando lugar a uma mulher pálida e com rugas, bem diferente da princesa determinada e da rainha altiva que fui. Fui ambas. Lutei. Agora não sou nada. Morrerei uma nada. Os médicos dizem que tenho três dias de vida. Esses três dias passarei em observação ao céu e ao gramado verde e às flores dessa primavera fresca. Minha ultima primavera.
É muito mais e muito menos que decepção. É uma resignação revoltante. É a efêmera eternidade.