MÁGOA

Nesses dias, abrindo a porta da casa,

Sentia a presença torpe do medo e do desespero

Aspirava o cheiro adocicado da bruxa do mês de agosto

Leve vislumbre dos vultos que espreitavam nos cantos

Os vincos de preocupação marcados em nossos rostos

Tensão, conversas nervosas, olhares de soslaio,

Paradas inexplicáveis em frente ao deus do espelho

- Algo estar para acontecer... - Dizia o inconsciente,

Cuidado! Espera o pior de todos os pesadelos

- Ah, nada vai acontecer! - Diziam as fadas da mente.

Mas enfim chegou o dia no meio da casa vazia

Palavras soltas ao vento cortando o fino desprezo

Em pequenas partes mortas, fios longos, bocas tortas,

Pedaços de mentirinhas, migalhas, meias verdades,

Nada que mereça o preço de evitar bater a porta

Porta de um coração ferido, magoado e sem saída,

Bomba que explode no rosto daquele que há só um dia,

Parecia ser seu apoio, seu lastro seu entreposto,

Vivendo um sonho perdido sem nunca ter escolhido

Ferir tão fundo e sem pena de provocar tal desgosto

Será que era verdade, no peito o que se sentia?

Será que era mentira o amor que se media

Por simples palavras ditas em resposta ao dia a dia?

Atos meros, abstratos, nada que demonstrasse ser,

Aquilo que realmente se dizia

E aqui jogados na sala restos de ressentimento

Cozinha limpa sem sal, refletindo o desespero.

No quarto partes de algo que nunca se concretizou

No hall o chapéu a bengala e as pegadas de lama

Restam na porta mil frestas para sair quem nunca entrou.

Franz Znarf
Enviado por Franz Znarf em 08/09/2011
Código do texto: T3208275
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.