A MULHER INVISÍVEL

É assim que me queres, que me podes querer: invisível e em quase perpétuo silêncio. É assim que me queres e me podes querer, porque assim a vida impõe, mas, principalmente, para que me possas redescobrir, redescobrir o Sol e a Lua e as estrelas do nosso céu pretérito e sempre o mesmo. É assim, só assim que, efetivamente, me queres, que me podes querer.

É assim, e assim me terás: menos que ser virtual, há anos-luz de qualquer ser real, eu me guardarei, para nós, quase inteiramente no silêncio e na ausência-presença de outro real, o outro real de mim e de ti, o único real que nos cabe viver. O “quase” fica por conta da pequenina brecha que nos permite o mundo viver.

Enquanto isso, cá embaixo, no rol dos dias, no vão dos dias, no "inutensílio" dos dias cabem, à perfeição, os versos finais de famoso poema do Fernando Pessoa em MENSAGEM:

“Em baixo, a vida, metade

De nada, morre."

No início da madrugada de 16 de dezembro de 2010, na capital de São Paulo, Brasil; republicação, com alterações, ainda na manhã de 08 de setembro de 2011.