A descoberta interior

Sou aquariana com ascendente em libra, “ar ao quadrado”.

Vivo com o pensamento no futuro e os pés fincados no presente, não por opção, mas por força das circunstâncias.

Busco a liberdade interior fugindo das amarras e cobranças maçantemente cotidianas, sem sentido algum.

No horóscopo chinês sou Tigre. Quer maior símbolo de liberdade que um felino?

Incorporei a personalidade “do contra” desde sempre; batalhei pelas liberdades alheias; defensora ferrenha das igualdades das minorias (fossem elas quais fossem).

Meu “calcanhar de Aquiles” (todos temos um), parece uma brincadeira do destino, é exatamente a ausência do ar.

Logo eu, ar em ar, me privando psicosomáticamente da leveza, do voar, da energia vital que é respirar.

Num auto-flagelo involuntário, engano meu sistema nervoso autônomo, minha inspiração perde a harmonia, suspiro sem parar, sinto-me idiota, irrito-me, não consigo expirar e,... cadê o ar?

Já passei por clínicos-gerais, pneumologistas, homeopatas, psicólogos e psiquiatras, verdadeira babel medicinal.

Já cogitei doença grave, síndrome do pânico, auto-punição, rebeldia, mania de perfeição...

Hoje vejo que é anterior, início de vida, vestígio do fórceps que me trouxe à luz, momento de sofrimento, medo e insegurança; faltou ar, sobrou medo de morrer, mas acima de tudo tive pulmões para suportar e abri-os com um grito primal, primeira palavra que lancei ao mundo. Um grito que com certeza mudou minha vida, pois nasci sobrevivente.

Sobrevivi e cresci cuidando dos sentimentos alheios, com grande cuidado para não ferir, não magoar, não deixar “faltar-lhes o ar”, esqueci apenas de me cuidar, de não me ferir, não me magoar, “dar-me ar”.

Engoli sensações, tive medo de magoar (e me magoei), lutei com dragões, e hoje, depois de anos de buscas incansáveis, de terapia, de amigos verdadeiros, me percebo vulnerável, humana, anti-herói, tal qual Dom Quixote.

Ainda me “falta o ar”, ainda me incomodo com essas crises, mas não quero nem preciso mais ser forte, não me fascina mais o arquétipo do herói, quero liberar o grito preso na garganta e na alma, capaz de colocar para fora meus fantasmas, vomitar meus complexos, expor meus preconceitos.

Não sou perfeita, posso ser frágil, feminina, mulher, posso simplesmente ser Fernanda, com acertos e erros, mas com vontade e ânimo para realmente viver.

Acho que estou no caminho certo, tenho sentimentos bons e ruins, oscilo, mas estou retomando o sonhar, o crer e acima de tudo... o me respeitar como ser humano.

Fernanda Maria
Enviado por Fernanda Maria em 17/12/2006
Reeditado em 17/12/2006
Código do texto: T320671