[Aquelas Mechas de Cabelo]

No amplo corredor lateral da nossa velha casa, o lodo verde descia da parede da casa e do muro de tijolos para o chão ...ou subia do chão para a parede e o muro? No centro do corredor, uma estreita trilha apisoada; era onde a gente mais caminhava para chegar ao quintal... O corredor era aberto para a rua de um tempo manso, tranquilo, sem sustos... ladrão, se houvesse era pego a laço.

No entanto, naquele corredor, silencioso como uma serpente, o tempo me mostrava as suas ferpas* agudas nas patas ligeiras daquelas rápidas formigas pretas: eu estava ali, presente compulsivamente observando-as, sem saber que elas me visitariam, agora, nestas últimas noites de minha vida. E tudo isto se dava em Minas, é claro... onde mais nasceria um observador do contato das patas das formigas com o chão verde do lodo das águas?

E no corredor, vindas sabe-se lá de onde, trazidas por quem?... lá estavam elas: argolas de cabelos amarradas com três laços de linha preta [o preto da linha me volta agora, vivo, nestes meus olhos cansados de viver].

Eu tinha uma mãe dessas, bem grandes, que pouca gente tem. Eu corria e gritava: "Mãe!"

Ela acudia: "Mexe nisto não, meu filho!"

O que eram aquelas mechas de cabelo amarradas com linha preta? Eu nunca soube. Mãe nunca quis me falar sobre elas! Não as temia, mas as evitava. Mãe não temia nada, nem vivos, nem mortos. Mãe era literalmente mulher grande e forte... e armada com um 32, cano médio... se um treteasse, ela atirava mesmo!

E como eu disse: isto acontecia em Minas... onde mais?

* Cá, são farpas; lá, eram ferpas mesmo!

[Desterro, 02 setembro de 2011]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 02/09/2011
Reeditado em 03/09/2011
Código do texto: T3196017
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.