INFERNO EM VIDA

É um cheiro de enxofre. É uma fumaça verde. É um painel mais do que bruto que se abre, e é tão quente, que chega a ser gélido quando se põe de soslaio a cara no vão da porta.

Perguntarás receoso, mas por que aí estás, se não fostes feita para tal estrutura?

Ai da vida que fortificou demasiadamente minha carapaça para que eu ardesse no fogo e mantivesse sob minha casca as queimaduras de primeiro grau, e nem se quer me foi dada uma mordaça pra que eu calasse as verdades, para que ninguém mais se machucasse no fogaréu das traições e maldades.

Mas ainda assim me dizes, isso não te desgasta? Isso não te corrompe? Isso não te ameaça?

Sim, isso me deixa na divisa do absoluto, como quem se arrasta em querer ver quando será feita uma justiça, e isso também detona minha fé que no meio da montanha se guarda e não sei se algum dia outra vez se abre, compondo uma estrada.

Mas o que encobre meu dorso, o que reveste minha alma, queima num inferno em que eu supunha que só as pessoas más o conhecessem de perto, mas eu que não me considero ruim, sobrevivo nele em vida...

Esperando ver se um dia saio dele pela porta da frente como quem não quer nada,e me dando conta de que bati e caí na porta errada!

Helena Istiraneopulos
Enviado por Helena Istiraneopulos em 15/12/2006
Código do texto: T319118
Copyright © 2006. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.