VENTUROSO  CONTÁGIO (I)
 

 
Segurando tuas mãos, orarei tuas orações e, em teus momentos de aflição, sorverei com beijos o doce salgar de tuas lágrimas...
A cada ressono teu, sonharei teus sonhos, acordando-te para recompor a imagem que inventei e que escapou da tua mente enquanto dormias –  suave mente...                                       
Acompanharei o vagar dos teus passos e, sem contar as horas que soam lá fora, emaranhar-me-ei mil vezes em teus abraços...
Perfumarei o teu hálito com o aroma de flores tenras, as mais raras, pra ser o mentor do teu sorriso, do teu respirar, da tua fala...
Verei, com o brilho natural dos teus cabelos e o transparente clarejar de tua visão, minha mão que na penumbra te sustenta...
Palatalizarei os teus sabores, sobejando sápidas substâncias linguais nos benditos frutos que te alimentam...
Serei germe do fermento que tu consomes, mas de ti me alimentarei também – em antropofagia consentida –, sugando, na maciez dos teus seios, a seiva forte que tonifica o sumo homem –  em absorção endérmica...
Pensarei com teus pensamentos lúcidos, agindo igual ao conteúdo do teu próprio ato – em comunhão simbiôntica...
Presentear-te-ei, sem que percebas, com o viço de tuas próprias virtudes – que em mim se guardaram ou se grudaram em venturoso contágio.