Conto do menino dos sonhos 2

brincações e meninices:

a menina vinha sem nem um roteiro nas mãos e sem fala treinada diante do espelho, vinha sim, mais uma vez, distraída chamando o Francelino para brincar, dessa vez de descer de carrinho de rolimã na rua da ladeira que dava na praça da alegria, onde tinha um coreto pra se bagunçar, ela vinha aumentando o volume da trilha sonora de cada passo brincante, dos seus tropeços, cantava uma música sem voz, sem letra, sem cifra...

a menina sem juízo chamava Francelino, sentavam no carrinho de rolimã que quase não se cabiam de tanta emoção, se juntaram os dois na pequena tábua de deslizar horizontes, sorrisos e tum-tum-tum no peito, e lá se iam ao longo do tempo, a ladeira era uma eternidade... o vento nos cabelos, no rosto, olhos meio fechados, cílios em alvoroço, os dois no carrinho correndo voando desembestando a ladeira abaixo... os risos no ar, os braços segurando firme e suave um ao outro, os braços abertos no vento como asas, as mãos abertas pra vida, o carrinho rolando no tempo nos levava menina e menino, a menina também apertava o menino de medo daquela velocidade sem fim, daquela visão lá de cima correndo mundo, a mão do menino apertava firme a mão da menina e seus cabelos ao vento acariciavam o rosto de Francelino com cócegas, ali eles distraídos do tempo foram dar na praça da alegria onde corria um rio que brincava debaixo da ponte levando bolas, flores e histórias... debruçaram-se na mureta que cercava o rio, a mão do menino na face suada e corada da menina, o rio dançante com a música que tocava deles dois, o menino brilhava de olhos, coloria tudo com sua morenice de sol embutido, o silêncio entre uma folha que caia da amendoeira e o avião que passava, o silêncio naquele raio de sol mágico entre os dois. Era ainda tardezinha de sol amarelo girassol bem dentro dos olhos de Francelino. A menina se iluminava como a superfície daquele rio álacre alagado de surpresas. Os dois de mãos dadas bebiam a sede um do outro enquanto o coreto tocava a canção do silêncio dos meninos da banda voou...

olha lá, ali... beijo vc!