COTIDIANO
Sonolento e boêmio,na soleira da porta
Um gato espreita a espiral de fumaça
Que sonha ser nuvem no baile do céu
[Ponteiros apontam à quase dez horas]
Batucando em fervura as velhas panelas
Incensam as peças da casa pequena
Dum cheiro gostoso de arroz e feijão
[Cercas de ripas,Cinamomos em flor...]
Nervosos estalos faíscam fagulhas
Feito vagalumes em noites escuras
De lua minguante
É forno de barro no fim do terreiro
Ardente em chamas ,”Prenúncio de pão”
[Rádios ligados,cachorros latindo...]
No monte de areia brincam crianças.
Vizinhas,comadres,de cuia na mão
Confidências,fuxicos,de fronte ao portão
Soberbo,um galo,dilacera seu canto além dos quintais
Incita os outros à cantigas iguais
Enquanto as roupas,molhadas ainda
Abanam-se ao vento nos tantos varais
A fábrica apita
O dia se agita
E a casa caiada
Num bairro plantada
É imagem sagrada
De luz e de Paz