VIDA NOTURNA

O que acontece quando

Não se tem à mão

A flor

A quem em sonho se destina?

Era, por assim dizer

A pergunta cuja resposta

Não encontrava.

E a sílfides

A bailarina cuja compleição

Suas más intenções despertaram

Não lhe renegou

O olhar matreiro de fogosa messalina.

Abandonou o local sob médias luzes

E cheias mesas de beberrões chorosos

Nenhum amor sincero ali a vista estava.

À rua sob fina garoa

Acendeu seu cigarro companheiro fiel

Das solitárias noites insones

Regadas a vinho e lembranças libidinosas.

Um querer encontrar aquela

Cuja flor nunca entregara

Um anseio desesperado de voltar no tempo

Apenas isso teve ciência

Que respirava a contragosto a fumaça do caminhão

Que dali recolhia os dejetos a baixos preços fabricados.

Fora!

Fora todos vocês meus inimigos

Alucinados encharcados até as ventas

E hálitos alcoólicos reclamando

A meretriz esbofeteada pelo cafetão

Que reclamava a baixa renda da noite.

Mamutes!

Sois os mamutes que a ciência

Ah! A ciência

A prostituta perseguida pelos fanáticos senhores de Deus

Enquanto nas esquinas homens e mulheres e crianças

Fazem do jornal o cobertor em letras garrafais.

Mamutes!

Repito, mamutes que a ciência findou eras outrora

Não me venham seus beberrões

Não entendo lhufas do que dizem

E choram à sarjeta a amante esquecida.

Porcos noturnos chafurdando seios pagáveis

E as emoções exibidas regadas à cigarros

E copos nunca esvaziados.

Saturado de cigarros e lembranças sem fim

Atravessa a rua

E chama o taxi

Sem saber seu destino.