A Noite Do Reggae
Eu ainda me lembro das notificações verbais que cansavam os ouvidos na espera tardia pela morte do sol e o nascer da noite, quando os segredos de vidas inteiras eram revelados deixando a inocência pasma, quase revolta em guerra com valores do passado, ultrapassados, cansados, ignorados e quase cômicos nesse liberalismo infantil que tinge nossas manhãs com o cinza da poluição e com as cores simétricas dos faróis nas esquinas.
Ocorrer em sigilo e adentrar nos salões enfumaçados carregando a noite nos pares de sapato, deslizando pela escuridão solitária do individualismo sonoro, esgotando as geladeiras de bebidas, e flamejando os olhos com a riqueza da fé dos homens de cabelos rastafári.
Os demônios que ressurgem com cabelos vermelhos, as almas esquecidas são apanhadas pelo oportunismo do tempo, levando os corações entediados para as áreas escuras dos teatros da vida, fortalecendo a crença no desamor das luzes estrelares, todas mortas como o brilho que tenta iluminar a noite, tão vazia quanto um eco das vozes lamentosas que gritam no espaço resplandecendo a dor através das ondas sonoras que batem no fim do universo e retornam para nossos ouvidos cansados.
Carregados pelos olhos de fogo, consumindo o álcool que desinfeta as ruas sujas da cidade de pedra, retardando o nascimento do sol para que a noite dure como os sorrisos brancos em que olhos arregalados observam os convidados como fantasmas que se arrastam pela saída.
Todos acordados agora, com as cabeças balançando como um caixão que desce na vala, todos anestesiados agora, como um coma que traz a vida para aquele que espera a morte na falência de algum órgão.
Todos normais, expelindo a noite por algum orifício do corpo, simplesmente para poder preencher as profundezas de nossas vidas com mais um pouco de veneno.
Vamos viver ...