A Cura
Estamos voltando, esfregando nas ruas a verdade escondida na ilusão da vida, esbarrando pelos becos com a felicidade embriagada que tortuosamente queima nossos corpos com a intensidade do centro de um vulcão. Não se pode mantê-la, às vezes só se pode senti-la, como o cheiro de um bife frito que foge dos limites da cozinha e morre no olfato dos famintos.
Já segregamos os valores no túmulo dos sorrisos que colorem suas paginas com as noites tediosas que passamos. O post-mortem das festas inesquecíveis é a verdade das coisas exibidas nas telas, consagrando a mentira acolhedora que se abriga no vazio sagrado de toda a ignorância.
Tombamos diante da resistência do tempo, com nossas consciências nuas, rangendo os dentes da certeza enquanto o inverno cobria nossas descobertas, brindando entre as estrelas com o suco gástrico produzido pelo desespero de toda a verdade.
Quando se detêm no sangue a herança dos povos escravizados, quando se revela no rosto, a tempestade devastadora da pobreza hereditária, o futuro é como uma droga, momentâneo, rápido e esquecível, a vida possui nossos corpos como um espírito obsessor, transfigura os sorrisos, e traz depressão para as esperanças ao mesmo tempo em que enlouquece os sonhos trancafiados no hospício da vida.
Loucos, revoltados e depressivos, mas ainda estamos VIVOS.