POIS QUE NADA ME É MAIS CARO NESTE MUNDO
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Neste mundo doentio de fuligem e gatunos
Espreitosos à espera da indefesa vítima.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Onde a sífilis já não ronda os prostíbulos
Mas a matança dorme aos montes nas calçadas.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Mundo desumanizado e vendido à prestação
Nos shoppings entupidos de doentias vontades insaciáveis.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Onde a fome rende fortunas aos urubus engravatados
E nos hospitais e nas ruas exércitos de esfomeados
Farfalharam os latões e vibram com o resto depositado.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Que a névoa egocêntrica dos mercadores da fé
E nos asilos velhos abandonados esquecidos pelos seus.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Que às portas da maternidade outra geração dará à luz
E o ciclo se repetirá como se uma sina fosse
Porque às voltas com o poder
Ladrões desfilam como ilibados senhores.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Mundo em que me encontro e me renovo a cada dia
Porque sei que desistir é o que querem.
Pois que nada me é mais caro neste mundo
Que o silêncio e o medo daqueles que sofrem
E ficam estáticos ao primeiro grito e feitos estátuas
Ali ficarão até o fim dos tempos enfeitando a vida.
Pois que nada me é mais caro neste mundo...