A RUA EM QUE PERDI
Na rua em que perdi não mais passei.
Também flores não há mais nos seus jardins, nem canto de pássaros; fugiram as borboletas da rua em que perdi.
Não tem nome a rua em que perdi.
Suas belas casas hoje são só ruínas, não há nelas mais a vida que antes vi.
É pequetita a rua em que perdi.
Num tiro de flecha está feito o seu percurso; mas foi nessa ruazinha, tão pequena e conhecida, que perdi.
A tantos perguntei que ali passaram, e todos responderam-me: Não, não vi!
Fui andando, cabisbaixo, olhos molhados, pela rua em que perdi.
Como pude, numa rua tão pequena, perder algo tão grande?! E como também não percebi que ficara para trás, caído no chão da rua em que perdi.
Hoje é triste a rua em que perdi.
Perdeu sua vida, perdeu seu encanto; apenas fantasmas transitam por ali.
Queres saber nesta rua o que perdi?
Pois bem, digo-o de uma vez.
Era uma noite fresca de domingo; a lua bela ía alto pelo céu, mil estrelas vigiavam-nos de longe. Por esta rua ía eu a passos lentos. Garboso! Às mãos levava a flor mais delicada e inebriava-me com tão suave perfume.
Era aquele um percurso rotineiro, porém, naquela noite tudo me parecia novo, pois, tinha sob os meus cuidados um tesouro inestimável.
Esta ruazinha, então, pareceu-me ser muito longa e eu não tinha nehuma pressa; pareceu-me que poderia caminhar pela eternidade afora.
A flor que eu protegia aquecia-se ao calor de minha mão. Era uma flor diferente, extremamente linda e nascera na primavera tardia de novembro e, por isso, muito rara. Íamos sem pressa, como se não quiséssemos chegar nunca. Falávamos de algumas coisas sem muita importância pois o que nos interessava era a companhia.
Então, depois de um breve silêncio a minha flor perguntou-me:
_ Gostas do perfume de outra flor , ou sou tua preferida?
Certamente que eu a preferia a qualquer outra.
Mas o certo é que eu jamais me perdoei por perder algo tão grande em rua tão pequena. E a alma? Essa pena, pena que faz dó; debalde procurei; palmo a palmo dessa rua eu vasculhei, mas qual, não encontrei.
Hoje passo, olhos tristes, perto da rua em que perdi. Nada espero encontrar senão umas velhas e rotas lembranças que ainda existem, enegrecidas, num canto qualquer de uma ruína de jardim; só por vê-las é que por vezes aproximo-me da rua em que perdi.