BOSQUE-CORAÇÃO
Hoje acordei dentro do meu bosque perdido
Cantinho esquisito que às vezes visito só
É um lugar escuro, sombrio e enevoado,
Com teias de aranha, moscas e muito pó.
Jardim secreto, floresta abandonada,
Com árvores mortas e vivas recordações
Galhos tortuosos com morcegos pendurados
Solo enlameado onde ando aos tropeções.
Desde quando eu visito este lugar?
Desde ontem ou bem antes de nascer?
Se fecho os olhos entro nele ao dormir
E nele fico bem depois do amanhecer
Às vezes o bosque vai ficando encarnado
Olho de soslaio, vejo uma sombra resvalar
Aspiro o cheiro antigo da alfazema
Abro bem a boca, mas nada tenho a falar.
Quem é este ser que não revela a que veio
Será que ele existe ou é pura imaginação
Serei em mesma fugindo do meu passado
Doem-me tanto as torpes recordações
Tenho medo deste lugar encantado
Onde tudo é mantido na secreta escuridão
Tenho tanto medo destas coisas condenáveis
Que escondo dentro do meu bosque-coração.