TOCANDO MINHA GAITA
Eu toco a vida como quem toca sua gaita diatônica, poucas notas dissonantes e outros tantos acordes limitados, mas invento o conteúdo ouvindo minha imaginação, uma grande sinfonia de aventuras. Colho com o tempo a simplicidade de um pequeno canto, que canta o passarinho, tão bonitinho, musica sem mensura e sem censura, porque para a vida, basta cantar. Essas palavras, quase soltas, dispersas, são sonhos de uma tarde quente, onde canta as árvores com o vento, canta o som dos carros barulhentos. Se me acorro ao tédio ou ódio do estridente som da grande cidade, pouco sinto o que o tempo tem para me dar. Misturo o luar enfumaçado com o jardim plantado em meio ao caos, mas tudo, e até por isso, tem o seu tempo de terminar. Já construo música nas tardes solitárias como quem inventa roteiros novelísticos, no fim vence o “mocinho”. Se minha idade falasse, ou cantasse, diria não as aulas de canto, porque Deus! -aos prantos me pediriam silêncio. No silêncio é que se ouve a mais linda das canções, aquela que o coração pede e a saudade compõe como quem beija pela primeira vez sua, também, primeira namorada... E eu tocando minha gaita.