AMOR PRISIONEIRO
Do fundo de uma cela escura, ouve-se um gemido e um lamento doloridos. Quem é esse condenado? Qual foi o seu crime? Quem foi que o prendeu dessa forma?
Seu nome é Amor. Ele não cometeu crime algum. Mas o porquê de sua prisão é uma história triste da força do medo.
No começo ele era apenas uma doce simpatia; uma gostosa atração, dessas que sentimos inexplicavelmente, de repente, quando olhamos nos olhos de alguém e que nos provoca um frio na medula, uma espécie de choque ou arrepio, enfim, ele era uma inocente criança.
Cresceu com o passar do tempo, adolesceu e tornou-se uma amizade maravilhosa; alimentado com carinho, afetos e atenção foi tornando-se forte e belo. Era muito sensível e tudo lhe merecia um olhar mais atento; só pensava em sua companheira de folguedos, queria estar com ela o tempo todo; ansiava ouvir a sua voz, comtemplar o seu sorriso encantador e também ela o correspondia, tinha por ele um sentir recíproco; e era assim que cresciam juntos, correndo pelos prados floridos, colhendo botões de esperança, dividindo as mesmas alegrias e descobertas.
Tornou-se um jovem robusto e adquiriu vontade própria. E eu, que lhe dera espaço e atenção, desejava saciá-lo da companhia de sua amiga. Buscava ocasiões em que se encontrassem para sentirem a presença um do outro.
Mas o Amor é como uma planta que, se encontra terra fértil, cresce e se fortifica, cravando suas raízes bem no fundo; é como um fio de água que, se não encontra tropeço que o curso lhe prive, vai deslisando mansamente até tornar-se um caudaloso rio de águas indomáveis.
Foi o que aconteceu com esse jovem Amor. Cresceu de tal forma, como um rio, que o leito do meu coração já não o podia conter; expandia-se cegamente, buscando, como a um oceano repousante, o objeto do seu desejo; sentia que sua amada também o esperava, alegre, como o mar ao rio em sua foz, prontos a mesclarem suas águas num leito único.
Mas eu não tive coragem. Fui invadido por um medo irracional; por uma covardia impetuosa. Sentia-me como um menino tímido que não ousa olhar nos olhos daquela que o fascina. Assim, o tempo passava e dentro de mim tornava-se cada vez mais acirrada a luta entre o desejo de abrir o coração e dar vazão àquele Amor, de deixar que se realizasse plenamente e o medo de sofrer por um equívoco.
Não abri as comportas para aquele Amor represado. Não falei. O tempo dilatou-se no tempo. Perdi e sem remédio, aquilo que sempre quis e por que sempre lutei.
Não pude interromper o fluxo da nascente daquele sentir, não foi possível evitar que o meu Amor se rebelasse e revoltasse contra mim e me cobrisse de injúrias e culpas. Por isso o prendi no calabouço do meu peito; condenei-o a prestar serviço forçado, preso por um elo de ouro, cercado por paredes de promessas inquebráveis. Contudo, essas penas são para castigar-me a mim e não a ele, pois, por vê-lo neste cárcere, sofro as penas daquela que feri e fiz chorar.