DE SONHOS, CHUVAS E FLORES

Da minha janela branca de arco arredondado, a visão dos cenários cotidianos e do jardim é ampla e aconchegante. Hoje a alegre senhora que passa toda manhã carregando um punhado de estrelas nos lábios, e nos olhos toda a bondade do mundo, ainda não acenou, e o carteiro ainda não sorriu-me esperanças. Por certo a chuva os deteve e no filme em preto e branco da paisagem cinzenta, senti a falta dos dois. Caturritas se alvoroçam no coqueiro antigo, já adornado com luzes do natal passado, na tentativa de antecipar alegrias, e a folha duma palmeira viçosa abriga uma pombinha assustada a proteger seu ninho. Chove há dias e no pequeno jardim, a grama tenta crescer em meio ao inço, que viceja mais do que as flores. Também os sonhos despontam nestes dias de chuva. São gotas transparentes despencando das folhas dos arbustos, escoando ligeiras pelas ruas do pensamento e que irão desembocar sabe-se lá aonde. Mas o sonho é semente forte, crescendo ao lado de uma zabumba temporã, que, indiferente ao mau tempo, insiste em brotar.

Alheios ao cinza dos dias, os amores-perfeitos estão cheios de graça e cor. O colorido das flores é sol nestes dias nublados.

Helena da Rosa

09.08.2011