Ela e (talvez) Ele

Ela olhava o calendário e o relógio, os minutos pareciam demorar uma eternidade para passar. Esperava alguém. Ele era alguém que, ao certo, ela não conhecia ainda, mas ainda assim, esperava. Esperava de uma maneira impacientemente paciente. Na verdade, sua impaciência vinha do medo dele não chegar. Será que viria? Ainda assim, esperava. Ela estava de joelhos no sofá, com os cotovelos debruçados no parapeito da janela e as mãos no queixo. Às vezes sua mente voava para outros pensamentos, lembrava das pessoas que já amou. Ou achava que amou. Já teria amado realmente?

Quando estava novamente distraída, imaginava-se ouvindo uma leve buzinada. Era sinal de que ele teria chegado em seu carro. Ela desceria as escadas de seu apartamento ainda não quitado com a familiaridade e a delicadeza que uma modelo desfila na passarela. Ela entraria no carro e ele faria um doce elogio costumeiro. Até suas fantasias, aos poucos, viraram um clichê. Sua vida virou um clichê. O alarme do celular toca. Mostrava que era hora de ir trabalhar. Ela entendia, porém, que aquele alarme mostrava, na verdade, que era hora de acordar de suas utopias.