DEBRUÇADA SOBRE A PONTE
Debruçada sobre a ponte, sobre o rio da minha história, vejo passar os sentimentos-fantasmas indo sempre em direção ao porto inexistente e, acima deles, as mesmas nuvens sombrias de palavras e silêncios a relampejarem sempre eterna iminente tempestade.
As palavras-muros cercando, como sempre, o possível-impossível Real, cercando, como sempre, as mesmas minhas mãos invisíveis estendidas, como sempre, a outras mãos invisíveis que já há muito não veem os acenos que se estendem na estendida invisível teia de alguma qualquer esperança sem palavras nem mãos nem silêncios.
Debruçada sobre a ponte, sobre o rio da nossa história, há séculos eu, acompanhando a passagem dos sentimentos-fantasmas, ai, pobre deles, em direção ao sem rumo eternamente sem fim nem sentido da sua história.
Reescrita de poema original de 14 de abril de 1990; republicação no início da madrugada de 06 de agosto de 2011.