Espera
Espera. Tira teus olhos da minha mão que ainda não sei o que fazer com tudo que escorre dos meus dedos pingando interrogações. Reflexos. Sempre reflexos abrem espaço para coisas visíveis entre lâmpadas de sessenta wats. Ouve. Nenhum barulho interrompe meus pensamentos. Abre a boca. Não grita minhas palavras que já não alcanço nenhum entendimento que possa transformar cartolas em mágicos dias sem noites para atrapalhar. Isso. Devagar. Revolve os olhos e blasfema minha lucidez de livros escritos à séculos jamais lidos em outra língua. Vira. Cansei dessa posição. Cuidado. Algo penetra dolorido nas rimas que guardei para mostrar depois do cigarro. Vai. Pinga tua alma desfazendo tua carne sobre a minha. Mais. Rasteja meu corpo cobra enredado em pernas e não esquece de gemer de vez em quando. Quase. Lembranças ainda brincam na minha pele de querer sentir quase igual como nunca e não vejo mais teus olhos. Vem. Já rouca tento gritar as novidades que galopam nos travesseiros enquanto busco rimar tua boca na minha. Agora. Câmera lenta roda nossas cabeças perdidas em qualquer ponto cheio de estrelas e luas e alguns planetas meio fora de órbita. Chega. Enquanto a brasa queima o resto que não aconteceu vira teu corpo e apaga da memória tudo o que teimou parecer. Foi. Só ilusão.