Por Carlos Sena
Meu amor tem pouca idade é verdade! Eu, pouca idade, já não tenho mais. O meu amor se encontra em mim e eu nele me desvelo. O meu amor não é alto nem baixo, mas na medida certa dos nossos passos quando estamos juntos passeando. O meu amor pergunta se eu tomei os remédios e eu nunca o deixo no tédio que a insegurança da idade deixa. O meu amor não se queixa da minha tranqüilidade e faz dela um rio pacífico em que ele, vez por outra mergulha e nada, mergulha nada e... Afunda-se em nossas ternas ilusões. O meu amor sabe que quando passamos o povo entreolha como se pais e filhos fossem – então ele faz questão de demonstrar que o pai é ele. Meu amor sabe que o tempo tempera e que amassando a massa não se altera o sabor do pão... Meu amor sabe que a gente se sustenta na troca, pois se lhe dou um beijo, logo me aperta a cintura; se adormeço no sofá, logo pergunta se estou cansado; se cansado lhe finjo esperto e ele, o meu amor, logo acredita pra não me aborrecer e rápido me põe pra dormir... Meu amor deixa que eu lhe ensine o endereço (com detalhes) de uma Rua no Recife antigo. Meu amor lê minha alma, mas não deixa de ler meus artigos. Em troca eu lhe digo que lhe gosto e ele me reclama dizendo que não me gosta, me ama... Meu amor se acende na cama sem me queimar e me queima sem eu lhe acender... A chama do meu amor se perde nas curvas comportadas dele, enquanto ele se enrosca nas minhas coxas mornas – movimento alternado entre a vida sem nexo ora no côncavo, ora no convexo... Se eu me mexo ele fica quieto, se me aquieto ele me cobre com edredom e, ao amanhecer me faz poemas escritos no papel crepom... E como na canção do Rei, prepara o nosso "café da manhã" e manha, manha, quase adormecendo de novo...