Ainda você...

Ultimamente não me reconheço,

Pois as coisas que eu fazia,

Não as faço mais.

As coisas que me incomodavam,

Nem as percebo mais...

Os objetivos que eu perseguia,

deixei-os para trás.

Qual teria sido

O marco sinalizador

Do ANTES ...

E do DEPOIS?

Qual o fator responsável

por tão radical mutação?

Por que ontem - uma pessoa centrada,

Segura, forte, decidida, dinâmica!

...e hoje, essa matéria amorfa,

com a vontade amolecida,

com o pensamento a divagar,

sem fixar-se em nada concreto?

Talvez um poeta experiente

- não um psicólogo,

um conselheiro espiritual,

ou um psiquiatra,

Pudesse penetrar

No âmago de meus pensamentos.

E ali, em conluio comigo apenas,

Sem buscar amparo na literatura,

Ou nos tratados científicos,

Pudesse acompanhar o meu vôo

E partilhar comigo

Essa sensação envolvente,

De flutuar no espaço etéreo.

Que me afasta do "aqui e agora"

Que me transporta para lugares,

Onde a felicidade está à mão,

É só tocá-la,

E deixar-se mergulhar nela.

Talvez esse poeta,

Mergulhando no meu eu,

Encontrasse, como um eco

Ou balouçando mansamente,

Como as ondas incessantes,

Do mar em tardes de verão,

Indo e vindo dentro de mim:

vo-cê, vo-cê, vo-cê...