[Cartas, Velhas Cartas...]

[Memórias da Travessa Assunção, 68 – Araguari-MG

Minha mãe escrevia cartas a pedidos... ]

Na calmaria de certa tarde antiga,

ela escreveu uma “resposta” para aquela mulher

que tirou do seio um bilhete enroladinho

e lhe entregou com a mão trêmula:

— Escreve uma resposta para ele...

Minha mãe desenrolou o bilhete,

segurou-o com as duas mãos,

e, em silêncio, leu com toda a atenção.

Depois, abriu o tinteiro cuidadosamente,

mas antes de mergulhar a longa caneta cinzenta,

parou com a pena suspensa no ar,

olhou no fundo dos meus olhos compridos

e disse-me, carinhosa:

— Anda, filho, vai brincar no quintal!

Ah, cartas, velhas cartas!

Ah, o carinho da discrição, do respeito

aos sentimentos dos confidentes!

Minha mãe jamais me revelou o conteúdo

de nenhuma carta que escreveu a pedido!

Ah, cartas, velhas cartas!

Quantas lágrimas choradas ao compasso

das evoluções da pena de minha mãe, quantas!

Diálogos surdos — a fala calada,

apenas dita assim, de olhos a olhos;

a leitura sutil dos sentimentos alheios!

Aquela resposta daquela tarde — aonde terá ido...

Teria levado as lágrimas daqui para as lágrimas de lá?

Ou as teria levado para uma insensível face de pedra?

E mais: se houve uma resposta àquela resposta,

não sei, pois a mulher jamais voltou a minha casa...

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E da velha Minas, verte o mundo, até hoje, e sem parar!

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... Excertos do meu velho "Caderno 1"

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 03/08/2011
Código do texto: T3136111
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