[Cartas, Velhas Cartas...]
[Memórias da Travessa Assunção, 68 – Araguari-MG
Minha mãe escrevia cartas a pedidos... ]
Na calmaria de certa tarde antiga,
ela escreveu uma “resposta” para aquela mulher
que tirou do seio um bilhete enroladinho
e lhe entregou com a mão trêmula:
— Escreve uma resposta para ele...
Minha mãe desenrolou o bilhete,
segurou-o com as duas mãos,
e, em silêncio, leu com toda a atenção.
Depois, abriu o tinteiro cuidadosamente,
mas antes de mergulhar a longa caneta cinzenta,
parou com a pena suspensa no ar,
olhou no fundo dos meus olhos compridos
e disse-me, carinhosa:
— Anda, filho, vai brincar no quintal!
Ah, cartas, velhas cartas!
Ah, o carinho da discrição, do respeito
aos sentimentos dos confidentes!
Minha mãe jamais me revelou o conteúdo
de nenhuma carta que escreveu a pedido!
Ah, cartas, velhas cartas!
Quantas lágrimas choradas ao compasso
das evoluções da pena de minha mãe, quantas!
Diálogos surdos — a fala calada,
apenas dita assim, de olhos a olhos;
a leitura sutil dos sentimentos alheios!
Aquela resposta daquela tarde — aonde terá ido...
Teria levado as lágrimas daqui para as lágrimas de lá?
Ou as teria levado para uma insensível face de pedra?
E mais: se houve uma resposta àquela resposta,
não sei, pois a mulher jamais voltou a minha casa...
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E da velha Minas, verte o mundo, até hoje, e sem parar!
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... Excertos do meu velho "Caderno 1"