A MORTE DO EGO
Olho para o chão e ainda vislumbro a sombra do meu desassombro;
Imagem impávida, arraigada a um homem que ali mesmo jazia;
A injúria assola o meu íntimo incrédulo, nunca dantes atormentado;
O reflexo da minha postura intrépida era a minha fortaleza;
Lembro-me que tratava as pessoas portando armas insidiosas;
Desdém, boçalidade e egoísmo eram minhas únicas munições,
Disparadas sem perdão, dilacerando corações simples e frugais.
Os restos mortais eram incontinenti “desovados”,
Por não serem percebidos pela indiferença do meu olhar;
A arrogância era a minha moeda de troca colocada em circulação.
Na verdade uma moeda falsa cunhada pelo status efêmero;
Idolatrava meus ternos de linho impecavelmente engomados,
Admirava os vincos cuidadosamente delineados;
Como eram imponentes minhas gravatas importadas!
Sapatos pretos lustrosos e espelhados refletiam em dobro
A visão inefável do meu ego narcisista.
Esse era eu, um semi-deus, um ser superior inatingível.
Ou, na verdade, quem sabe, um ser desprezível.
Os favores que recebia, nas areias da praia os escrevia;
As ofensas rugidas como um animal,
Gravadas permanentemente em metal.
Extenuei-me de tanto admirar a beleza infalsificável das rosas,
Ficava inebriado com o seu olor inconfundível,
Infelizmente, delas, só consegui abstrair os espinhos.
Não imaginava que todo sapato lustroso belíssimo,
Acabava em alpercatas opacas e feias.
Sinto-me um cego com mal de Alzheimer,
Pois a soberba me fez perder a visão
E a ingratidão me fez perder a memória.
Estou agonizando... desvanecendo... sucumbindo...
Alma de “Sir” britânico num corpo choroso, doente e cediço
Um homem de “sangue azul”, detentor de muitas riquezas,
Mas que não consegue comprar um simples arrependimento.
Eis que a morte chega sorrateira, esgueirando-se.
O fim está próximo...
Só que a mim chega como uma mancha infamante,
Única mácula na minha senda,
Destino infausto.
Triste labéu.