REDOMA

A casa onde moro é minha referência

Um nicho

Habitat

Gosto das cores mornas das paredes

Dos móveis e sua disposição imóvel

Da cama onde me encaixo como a polca no parafuso

(certo)

Do sofá onde acoplo meu corpo

Gosto do abraço da toalha branca, após o banho

E muito..gosto muito dos meus lençóis transparentes

Porque não há no mundo, lugar como a minha casa

Tenho carinho

Amor

Afeto

Consolo

Compreensão

Nada há,

Além do meu eu e dos meus objetos pessoais

ocupando todo o espaço,

Reconheço-me

nos cantos

Meu

cheiro

(bolorento)

está no ar

e por isso,

não tenho medo

Talvez por isso, também, minha mente esteja tão fechada

Pensei,

talvez seja a hora

De romper este círculo

Rotineiro e viciado

Um liame de falsa segurança

De satisfação que parece plena

Pois plena não é

Verdade translúcida

Como ter plenitude sendo tão só e estático

Relógio que se movimenta

mas sempre de acordo com a

engrenagem

pré-fabricada

Converso com as paredes

(Elas me entendem)

E como não entenderiam

Se nunca contradizem

Não debatem

Não rebatem

Não argumentam

Talvez eu deva abrir as portas e as janelas

E deixar o cheiro de fora entrar

e o mofo sair

de dentro

Deixar que o imaculado seja tomado pelo impuro,

ar circulante

que a mente se infecte com o novo

Talvez este exercício faça com que eu seja menos eu

Mas por outro lado me ensine a ser um pouco nós

Rara orquidia negra
Enviado por Rara orquidia negra em 30/07/2011
Código do texto: T3128777
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