Trunfo

Passado

- Deve ser influência da chuva

que escorre teimosamente.

Quisera eu poder escorrer

as mágoas e libertar a alma das dores.

Não sei desde quando, nem como,

a amargura ronda.

Sei que ronda, porque a sinto

corroendo-me lentamente.

Tem fome de que?

Por que insistes tanto

em corromper a minha alegria?

Ameaço:

suga o meu sangue sonhador.

Faças-me desistir do cosmo.

Derruba-me a terra.

Mas que seja logo e menos louco.

Arranca-me o mel

Lambuza-me de fel

Mas já. Não fica à espreita

porque não me encontrará

desfeita, nem desprevenida.

Presente

- Tenho uma teimosia nata

que não se corrompe, não.

Tenho risos escondidos,

truques burlando imprevistos

e não temo a solidão.

Desiste. Não suporto amarguras e

o meu maior trunfo

é o tempo que nunca perco.

Em segundos desfaço-me de ti.

É infinita a minha vontade

de, a qualquer custo, ser feliz.