Nas algarobas do Angari ( reflexões )
Olhei hoje para o rio.
Não era apenas rio. Era um lago de águas tão serenas e polidas que a cidade refletia-se, debruçada em suas margens.
Tão translúcido que tive medo, por alguns instante, que também meus pensamentos se refletissem nele.
Pensamentos que esvoaçavam como os pardais , procurando abrigo nas algarobas do Angari. E como eles, buscavam o carinho de um companheiro para conseguir dormir.
Pensar... sonhar... encontrar.
Como encontram os pardais, naquele reboliço do imenso bando, o seu par para encostar e dormir ?
Não contam seu segredo. Talvez porque não exista segredo. Acontece apenas assim...naturalmente.
Não há interrogações, explicações. Não se fazem questionamentos existenciais. Encostam, arrulham e dormem. Simples assim.
Será que os pensamentos tem esse imã natural : encontram-se na madrugada e voam ao amanhecer ?
É que são sempre mais ternos quando amanhece, mais doces e cheios de esperança.
Sábios, os pardais voam durante o dia e aninham-se ao anoitecer.
Quando escurece, "o crepúsculo , porteiro da noite", anuncia a hora de recolher, e só aos sonhos e desejos é permitido vagar. Como os pássaros, também eles saem em busca de um peito para aninharem-se.
DIVAGAÇÕES...
Os olhos contemplam o rio. Os ouvidos acompanham os arrulhos na algaroba. Os pensamentos... seguem a brisa.