MINHA ROUPA INESQUECÍVEL
Minha Roupa Inesquecível
Carmen Lúcia Fossari
A roupa que vestimos revela tantas leituras de sermos, estarmos e por fim pode na maioria das vezes indicar pela textura, cor e forma como nos sentimos por dentro diante da nossa relação com o exterior seja no cotidiano ou em ocasiões especiais.
Os figurinos artísticos revelam e indicam Personagens, assim como os uniformes indicam categorias de grupos de trabalho ou de agremiações de naturezas distintas e as fantasias
pertencem ao universo do mundo onírico, não têm nenhuma função além de dar vazão ao mundo da imaginação através de roupas muitas vezes agregadas nelas, como valor próprio,
os adereços.
Esta foi à reflexão que perpassei antes de responder ao convite de meu amigo Dé Beirão
sobre minha roupa inesquecível (para o SITE DA MODOTECA DA UDESC), e me surpreendo , tendo passado muitas vezes por figurinos teatrais, fantasias e mesmo roupas com texturas delicadas de momentos importantes de minha vida que, é lá na infância de uma menina de sete anos que encontro minha roupa inesquecível.
Um conjunto de lã em xadrez miúdo vermelho e branco saia de pregas e blusa com lindos punhos e gola alta acompanhando os punhos de tricô branco, tricô este bem como o conjunto criado e realizado pela Irene Maria, minha mãe.
E olha não era uma roupa, pois que a época era usual as mães vestirem as filhas com roupas iguais então meu belo conjunto de golas e punhos de tricô eram dois.
Recordo que acompanhava os pontos de tricô, sentada ao lado no sofá onde a Irene tricotava feliz e eu, imaginando a roupa pronta, ali com certeza já vislumbrava uma das minhas paixões na vida roupas e figurinos, hoje muitas vezes desenho minhas roupas e figurinos teatrais).
Minha irmã menor Ivana Maria ganhou do mesmo tecido embora com golas e punhos em pontos de tricô diferentes, a mesma roupa e incrível que eu adorasse as roupas iguais, nem éramos gêmeas, mas acho que havia tanto amor naquelas criações que absorvia o sentimento antes e depois com a própria roupa que de todas as maneiras eram muito bonitas.
Outra roupa inesquecível foi um vestido lindo de lã amarela em alto relevo, uma textura belíssima, com detalhes trançados do próprio tecido, mas este eu” herdei”, de minha prima e madrinha Lila, que foi uma grande estilista em Brusque, sorte minha “herdei” alguns vestidos lindos, um em tafetá azul marinho bordado em branco, que até hoje me dá prazer recordar.
E m nossa família de quase 30 prim@s, as roupas, especialmente as de festas circulavam dos mais velhos aos mais novos, isto quer dizer que podiam circular entre Brusque e Florianópolis. A industrialização e o desenvolvimento têxtil do país, e a conseqüente oferta massiva dos produtos desta Indústria derivados, acabou com este saudável hábito de troca de roupas e afetos nas famílias, pois se compra com tanta facilidade, para todos os bolsos e situações.
A minha primeira tentativa de criar roupa, nos anos 70 me levou a experiências de longos em tecidos de algodão apenas com recorte na cabeça e muita concha e pedraria, a época
“assaltava” o ateliê do pai pintor para dar cor nos sapatos que combinassem com as iniciais criações, não sei até hoje como dava certo, mas chegava usar tinta a óleo em sapatos que naturalmente demoravam muito a secar.
Recordar uma roupa inesquecível é como viver um pouco mais aquela sensação despertada com uma chance extra, assim reacendemos momentos especiais em nossas vidas, e na minha imaginação retorno aos sete anos, com uma xícara de chocolate quente nas mãos, com todo cuidado para não sujar os punhos da mais linda lã branca, tricotados por minha mãe.
12 /07/2011
Ilha