NA TRILHA DOS MENINOS
percebo-me falsa
inquieta
finjo não perceber
os olhos tristes
engano-me
desesperança
desamor
encontro descaso
espio a guerra deflagrada
estremeço na pobreza de sentimentos
em desdenhoso conforto
distribuo trocados
distraída, sigo em frente
descansada, como se em paz
distorcida, sem olhar pra trás
FOME E MAIS FOME
pequenos semelhantes
a dor carregam
estômagos e corações
vazios
nada nas mãos
brilha pra alguns o sol
em outros curte o dorso
dos ossos que grunhem de fome
pobres meninos a ranger os dentes
pequenos irmãos
uma lágrima por vós
minh’alma carrega
a tristeza muda
que quer gritar
pelos dedos a rabiscar
grito tal bicho enjaulado
colham
recolham
não os deixem de lado
PEQUENOS GUERREIROS
tão pequenos
armados até os dentes
defendendo-se do racismo
mãos que oferecem ódio
em vida que se abrevia...
guerreiam crenças
crêem em ídolos encapuçados
pelotão de trapos
Deus não ampara
não olha
não vê
exércitos de corrompidos
perambulam bandos
trapaceando a dor
completamente sós
desfilando nas ruas
sem cor
guerreiros
guerra insana
devora o ser
ensina a matar e morrer
imagem: https://www.metropoles.com/brasil/unicef-32-criancas-sao-assassinadas-por-dia-no-brasil
percebo-me falsa
inquieta
finjo não perceber
os olhos tristes
engano-me
desesperança
desamor
encontro descaso
espio a guerra deflagrada
estremeço na pobreza de sentimentos
em desdenhoso conforto
distribuo trocados
distraída, sigo em frente
descansada, como se em paz
distorcida, sem olhar pra trás
FOME E MAIS FOME
pequenos semelhantes
a dor carregam
estômagos e corações
vazios
nada nas mãos
brilha pra alguns o sol
em outros curte o dorso
dos ossos que grunhem de fome
pobres meninos a ranger os dentes
pequenos irmãos
uma lágrima por vós
minh’alma carrega
a tristeza muda
que quer gritar
pelos dedos a rabiscar
grito tal bicho enjaulado
colham
recolham
não os deixem de lado
EU EM MEU ESPANTO...
assombro
incredulidade
país bendito pela natureza
não abençoa seus filhos
ignora-os, como se em paz
prostituídos
vendidos
mutilados
esquecidos
assombro
incredulidade
país bendito pela natureza
não abençoa seus filhos
ignora-os, como se em paz
prostituídos
vendidos
mutilados
esquecidos
CHORAR É PRECISO
Choro por estes meninos
degradados pela dor,
desgraçados pelo mundo,
todos os dias amaldiçoados.
Dói vê-los no vício da cola,
regados à bebida,
cambaleantes drogados,
zumbis vagueando pelas ruas.
Nas viagens
acreditam-se crianças,
inventam e reinventam a vida,
que lhes nega o sonho.
Existência maldita,
de onde tudo lhes é tirado.
Dói a consciência.
Nesta árida existência
assisto entristecida
a caminhada sombria
dos nossos meninos.
O que direi?
peito apertado de aflições,
esconde-se em desvãos,
derrama versos.
Choro por estes meninos
degradados pela dor,
desgraçados pelo mundo,
todos os dias amaldiçoados.
Dói vê-los no vício da cola,
regados à bebida,
cambaleantes drogados,
zumbis vagueando pelas ruas.
Nas viagens
acreditam-se crianças,
inventam e reinventam a vida,
que lhes nega o sonho.
Existência maldita,
de onde tudo lhes é tirado.
Dói a consciência.
Nesta árida existência
assisto entristecida
a caminhada sombria
dos nossos meninos.
O que direi?
peito apertado de aflições,
esconde-se em desvãos,
derrama versos.
PEQUENOS GUERREIROS
tão pequenos
armados até os dentes
defendendo-se do racismo
mãos que oferecem ódio
em vida que se abrevia...
guerreiam crenças
crêem em ídolos encapuçados
pelotão de trapos
Deus não ampara
não olha
não vê
exércitos de corrompidos
perambulam bandos
trapaceando a dor
completamente sós
desfilando nas ruas
sem cor
guerreiros
guerra insana
devora o ser
ensina a matar e morrer
JUSTIÇA
vida desigual
tantos e tantos condenados
magoados
clamam por mim
pálidos palhaços
vida como circo
direito a globo-da-morte
fina corda-bamba
malabaristas das esquinas
vida desigual
tantos e tantos condenados
magoados
clamam por mim
pálidos palhaços
vida como circo
direito a globo-da-morte
fina corda-bamba
malabaristas das esquinas
imagem: https://www.metropoles.com/brasil/unicef-32-criancas-sao-assassinadas-por-dia-no-brasil