[Restos de Nada]

A cascavel estava no topo do

barranco da passagem do corgo,

deu no chocalho e assustou o meu cavalo.

Terminou morta a paulada,

e ficou lá, jogada no trieiro

onde quase ninguém passa.

Na volta,

depois de muito nascer do sol,

o esqueleto branco da cobra tava lá,

embranquecido, sequinho, sequinho.

Tinha grumos de terra no meio das costelas,

parando e olhando bem de perto, deu pra ver que

era coisa das formiguinhas que comiam

as últimas lasquinhas secas de carne

ainda restantes nos ossos da cobra.

Para que é que me servem esses

restos de ossos que ainda carrego?

Tinha também uma cabeça de boi

amarrada numa macaúba alta, alta...

A magrice da árvore quase não comportava a caveira.

lembro dos olhos do boi [faz tempo...]

no momento que ele levou o tiro de espingarda

que fez aquele buraco que eu vejo na caveira.

E aí? Aí, os marimbondos fizeram ninho na caveira,

eu cheguei devagar que não sou besta de atiçar eles,

e vi um deles na portinha do buraco de bala.

Por onde entra a bala que mata,

sai marimbondo que zune atrás da gente!

Eh! De fato, no duro mesmo,

eu não sei se tenho mais medo da bala que alivia,

digo, que mata, e deixa caveiras assim, branqueando ao sol,

do que do marimbondo que bota gente viva pra correr!

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Revisitando-me, às vezes, reencontro o mesmo espanto que antes me levara a escrever... às vezes, nada mais acho... só ingenuidade, só simplicidade; pois antes de mais nada, eu sou simples... quem é que não se deixa enganar pelas minhas palavras? Negaceio o que sou... sempre!

Ah... o poema é do Cap. 2 - Cria e Recria - do meu livrinho, "Araguaris[Narrativas Poéticas]", com primorosas ilustrações de Paula Baggio... trabalho que apresentamos, em interarte, no Museu Nacional de Belas Artes - Rio, 2001

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 24/07/2011
Reeditado em 24/07/2011
Código do texto: T3115461
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