[Simpatia]

Ali, bem junto às escarpas rochosas da cachoeira,

a gameleira umbrosa,

com suas raízes atarracadas ao barranco,

matava a sede na rápida corredeira.

O curandeiro jurou:

disse que não era para eu duvidar,

para minha hérnia de nascença sarar,

era só fazer a simpatia!

Pôs o meu pé no tronco da gameleira,

demarcou o tamanho com dois riscos,

e fez um corte profundo na casca da árvore.

Escreveu meu nome num papelzinho

e rezou com a mão na minha cabeça.

Abriu com seus dedos a ferida que fizera no tronco,

colocou lá dentro o papel dobrado em três dobras.

Depois, juntou as abas da casca,

e amarrou o corte com sete voltas de uma embira.

Curado eu não fui,

mas pelo menos a sua parte a árvore fez:

generosa, recebeu o meu papelzinho,

e selou com sua seiva aquela ingênua promessa.

Lá, o papelzinho foi reintegrado à natureza,

mas aqui, em uma fenda qualquer de minha mente,

ficou guardadinho, do jeito que estava quando foi feito!

Eu não sabia... eram dois, os papeizinhos!

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Revisitando-me, às vezes, reencontro o mesmo espanto que antes me levara a escrever... às vezes, nada mais acho... só ingenuidade, só simplicidade; pois antes de mais nada, eu sou simples... quem é que não se deixa enganar pelas minhas palavras? Negaceio o que sou... sempre!

Ah... o poema é do Cap.2 -"Cria e Recria" - do meu livrinho, "Araguaris[Narrativas Poéticas]", com primorosas ilustrações de Paula Baggio... trabalho que apresentamos, em interarte, no Museu Nacional de Belas Artes - Rio, 2001

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 24/07/2011
Reeditado em 24/07/2011
Código do texto: T3115393
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