O MENDIGO E A PIPA

Vai estrada afora o mendigo soltando a pipa

Pipa que achara em algum galho à beira da estrada

Passam caminhões, carros e ônibus e o povo a ver a cena

Quem dera que os pensamentos do mendigo também pudessem voar

Contudo, presos em si os pensamentos, somente a pipa voa num significante sem os símbolos que criam sonhos

Um homem, uma linha e uma pipa sem derivações

Quem dera que algum susto na estrada o fizesse despertar para a vida

Preso por um inconsciente defeso segue o mendigo a sua estrada

É bom que quem olha não simbolize para não sofrer tanto

Quem sabe um dia outro objeto que o mendigo encontre na estrada infinda da sua vida sem significados, o faça acordar para a realidade que a dor o fez perder

Ele solta a pipa e sorri o seu sorriso infantil, que ele sorri longe das dores da vida adulta sepultadas sob um manto de sofrimentos indizíveis

Dor abafada, vida peregrina, pipa ou coisa qualquer

Qualquer coisa serve...