[Cabeça... Sem Nexo?]

Os meus olhos, extenuados desse meu viver,

estão fartos da inexorabilidade dessa roca doida

que trama, no giro maluco de um eixo sem tempo,

o fio das gerações que me antecederam...

Tento exalar o aperto de uma dor sem nome,

dor que soluça, sem saída, no fundo do peito;

dor do corte do modo de ser de uma praça

onde as coisas, incognoscentes de si mesmas,

oferecem-se, plenas de seu tempo, aos meus sentidos.

São formas de uma dureza permanente

porém, frágil de tanta humanidade...

Sua essência, negada ao imediatismo dos passantes,

constrói-se dos sentimentos estéticos que latejam

em todos os inconscientes de alguma época —,

o visgo da teia dos homens de todos os Agoras!

Porém, incompreendida, incompreensível,

a minha cabeça se lança num vôo inútil:

e então, o meu olhar pondera que a alguns

foi dada pelo Destino a posse dos bens;

herdade que usufruem ao gume do egoísmo,

no escoar do enredo fútil de suas vidas,

na mesquinharia insensível à mão do tempo!

Demoro-me a olhar a praça vazia e penso:

a mim — pobre de mim, que dor!—

foi me dada essa cabeça... essa maldita cabeça

que não aprendeu a usar o saber acumulado

para também fruir, sossegada, inconsequente,

esse sentido vazio de ter, tão duramente estatelado

aos meus sentidos pelas obras das mãos de outras eras!

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Revisitação da minha coletânea "Cavalos da Noite" - ilustrada por Paula Baggio

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 21/07/2011
Código do texto: T3108981
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